domingo, 26 de abril de 2009

Ballard, arranha-céus e desenvolvimento

Há um romance "menor" de Ballard que gostaria de recordar hoje. Chama-se "High-Rise", traduzido seria, provavelmente, "Arranha-Céus", escrito em 1975. O título não esconde o tema central de uma história, desenrolada na sua totalidade num edifício de 40 andares. Simplificando, é uma visão negra e distópica, ao mesmo tempo que arguta e visionária, das cidades, das rotinas e da(s) vida(s) que se desenvolvem dentro destes edifícios, artefactos máximos da capacidade tecnológica humana, mas que ditam um quotidiano, de tal forma impessoal e artificial, que a organização social regride ao seu início tribal e violento. Deixo uma passagem, entre o real e a ficção:

"A primeira parte do programa examinaria a vida no arranha-céus a partir dos seus erros de design e irritações menores, enquanto a última parte, observaria a psicologia da vida de uma comunidade de duas mil pessoas encaixotadas no céu - tudo desde a incidência do crime, do divórcio, dos desvios sexuais, da modificação dos residentes, a sua saúde, a frequência das insónias e outras desordens psicossomáticas. Todas as provas acumuladas durante várias décadas a lançarem uma luz crítica ao arranha-céus enquanto estrutura social viável, mas a eficência do custo na área da habitação social e os grandes lucros do sector privado pressionaram para que estas cidades verticais continuassem a ser construídas para o céu contra a necessidade real dos seus ocupantes" (p. 52).

Recordei esta passagem durante a polémica acerca da demolição das torres do Bairro do Aleixo no Porto. Recordo esta passagem sempre que me falam dos arranha-céus como sinónimos de desenvolvimento.

Recordo esta passagem hoje ao descobrir que J. G. Ballard morreu no passado dia 18 de Abril.

3 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Maria Paciência disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

O comentário acima refere-se obviamente a outro post,não este!Quim Caldas